Vale do Calango

Não muito distante de Alvorada do Norte, Goiás, existe uma região que convencionamos chamar de Vale do Calango. O motivo do nome é evidente ao observar as images de satélite. Um hall de morros vai afunilando pelo corpo do calango e, quando chega na altura da sua pata direita, bifurca-se num vale secundário estreito e apinhado de mata ciliar. É ao final dessa pata que duas cachoeiras altas, a Calango e a Calanga, caem em paz.

O plano era percorrer uma série de trilhas que já existiam por ali até alcançar o ponto da bifurcação. Lá acamparíamos e, no dia seguinte, adentraríamos nas profundezas do vale que nos levaria às cachoeiras. Os 8km previstos para o primeiro dia pareciam fáceis. Mas não foram. Pela primeira vez na história do Trilhas Perdidas, não obtivemos autorização da fazenda mais próxima para caminhar na região. Tivemos que recuar até encontrar uma outra fazenda mais simpática à causa. Conseguimos, mas adicionamos 2 a 3km ao percurso. Foram cerca de 10km no total do primeiro dia.

Para não invadir explicitamente as propriedades daquele que nos negara a entrada, os quilômetros adicionais tiveram que ser feitos basicamente no leito do rio. E isso nos expôs muito cedo à crueldade do sol daquelas bandas. Tudo é quente. O solo, as pedras, a água, o ar, as sombras etc. O rio Tabocas, que atravessa todo o vale, fica exposto ao sol praticamente por toda a sua extensão e parece sempre estar prestes a entrar em ebulição. Para piorar, suas águas estavam bem marrons devido às chuvas anteriores.

Depois de acampar sobre pedras eternamente quentes, partimos para os 3km do vale secundário das cachoeiras. Bem mais limpo e frio que o leito principal, foi um alívio caminhar por ele. Suas pedras frequentemente formavam plataformas lisas, fáceis de andar e interessantes para acampar em época de estiagem. Naturalmente, o caminho complicava-se conforme chegávamos mais perto da Cachoeira do Calango. Rochas maiores apareciam e exigiam mais dos joelhos e braços. Cachoeiras de até 10 metros, algumas em formato bem peculiar, começavam a aparecer. Paredões imensos cercavam o horizonte.

Foram 2 horas e meia, mais ou menos, para chegar na Cachoeira do Calango. Vimos uma imensa e linda cascata de 80 a 90 m caindo solene nos confins da Serra Geral. Em sua base, um interessantíssimo corredor de “chuveiros” compensou a falta de um poço maior. Um dos moradores locais, que mora ali há 29 anos, confessou-nos nunca nunca ter visto de perto a cachoeira. E a dona da fazenda que nos permitiu a entrada sequer sabia de cachoeiras por perto.

Percorremos ao todo 25km em dois dias. Por falta de tempo, deixamos a Cachoeira da Calanga para outra expedição. Que outras belíssimas paisagens ainda veremos por lá?

Fotógrafos: Rennaly Souza e Alex Rocha

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